Chamada para publicação de artigos 46ª Edição | “Comunicação e o mundo do trabalho”

23.10.2023

APRESENTAÇÃO

Desde os primeiros movimentos da denominada racionalização científica do trabalho, os processos comunicacionais adentram o mundo do trabalho. De prescrições escritas ou orais, de reuniões a ordens dos imediatos (gerentes e chefes), do modelo Taylorista/Fordista ao Toyotismo, temos a intensificação do uso das estratégias comunicacionais na gestão do trabalho. 

 

Emerge nos anos 2000, a hegemonia tecnológica do Vale do Silício que entra em conexão explosiva com a ordem neoliberal, dando origem a um novo modelo de negócio: empresas que controlam tecnologia digital e se organizam como plataformas de diferentes perfis e interesses econômicos. 

 

São empresas que têm em comum a gestão algorítmica do trabalho, a coleta de dados, o uso de ‘inteligência artificial”, com a finalidade de atualização permanente da programação algorítmica, venda de perfis no mercado publicitário, gestão da vida pública e das relações sociais. Exemplos não faltam: interferência em eleições, dados vazados, polarização política e religiosa, circulação de desinformação. 

 

Essas empresas operam na lógica da compressão tempo-espaço, potencializando a circulação de informação para produção, compra e venda de mercadorias de qualquer tipo. O trabalho não escapa a essa lógica. 

 

A plataformização ou a uberização do trabalho espalhou-se pelo mundo, sobretudo, nos países da América Latina, nos quais há multidões de trabalhadores(as), esperando por qualquer tipo de possibilidade de vender sua força de trabalho. O modelo de negócio dessas empresas desorganiza o mundo do trabalho tal como o conhecemos, desespecializa perfis profissionais e têm causado incertezas de todo o tipo. O ritmo acelerado e continuo de mudanças cria um ambiente de insegurança, um campo minado para a formação profissional e intelectual das novas gerações. 

 

Os trabalhadores e as trabalhadoras da comunicação, das artes, da cultura também passam por esse quadro complicado para manterem-se na profissão. Precarização, perda de direitos, assédios, violências, desorganização dos laços profissionais têm atingido em cheio a todos e todas. 

 

A gestão algorítmica do trabalho tem reforçado estereótipos, preconceitos, provocando reiteração de ações racistas e sexistas. O modelo hegemônico de uso das tecnologias se impõe para obliterar outras formas possíveis de apropriação dos conhecimentos da humanidade. Mas há resistências. Outros usos da tecnologia são possíveis. Os estados nacionais democráticos, a sociedade civil e os movimentos populares precisam atuar por soberania informacional, regulando o modelo de negócio dessas empresas e buscando tecnologias alternativas. 

Trabalhadores(as) resistem, organizam outras lógicas de funcionamento na venda de sua força de trabalho: arranjos alternativos, cooperativas, novos tipos de associações e sindicatos emergem, ainda frágeis, mas em todos os países aparecem iniciativas esperançosas. 



Sugestão de tópicos a serem abordados:

A partir dessas ideias iniciais, propomos a autores e autoras os seguintes tópicos temáticos como balizas para a proposição de artigos.

 

  • formas como as tecnologias digitais e a plataformização alteram o mundo de trabalho dos comunicadores: inserção na lógica do desenvolvimento capitalista, o impacto na qualidade de vida, na distribuição da riqueza, na participação política e na democracia. 
  • perspectiva de gênero, identidades raciais e de classe na investigação sobre o trabalho em plataformas de comunicação. 
  • formulação de políticas públicas, a liberdade de expressão, os direitos dos trabalhadores e a promoção do trabalho digno. 
  • mudanças no mundo do trabalho dos jornalistas e comunicadores; modificações nos perfis profissionais e nos processos produtivos.
  • impacto da digitalização no mundo do trabalho da comunicação: reestruturação produtiva, polivalência, precarização, desprofissionalização.
  • datificação do trabalho, implicações para as atividades dos profissionais da comunicação.
  • controle e gestão algorítmica das plataformas digitais no mundo do trabalho da comunicação.
  • ‘inteligência artificial’ na economia dos cliques e as implicações éticas para as deontologias profissionais.
  • comunicação como conceito e prática estruturante das transformações no mundo do trabalho. 
  • processos de comunicação como racionalização da organização do trabalho.
  • arranjos independentes e cooperativas de trabalhadores da comunicação e a possibilidade de organização alternativa às lógicas da plataformização.
  • novas funções que emergem da plataformização do trabalho na comunicação.



Referências

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VIDIGAL, Viviane. Periciando a caixa de pandora: os segredos da gestão algorítmica do trabalho. Teoria Jurídica Contemporânea. Vol 6, 2021 PPGD/UFRJ – ISSN 2526-0464, ID: e44817 DOI: 10.21875/tjc.v6i0.44817



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