Chamada para publicação de artigos 50ª Edição | “Comunicação rural no Século XXI: modos, meios de comunicação e géneros em transição. Homenagem a Juan Díaz Bordenave no centenário de seu nascimento (1926-2026)”
Introdução
No final das genealogias teóricas, entre otros propósitos, na trajetória das categorias, dos conceitos e das noções da teoria comunicacional, cabe distinguir entre os intelectuais segundo se desempenhem como precursores ou iniciadores, inventores ou criadores e intérpretes ou continuadores do léxico e dos raciocínos constitutivos de cada disciplina ou campo de conhecimento científicos. Os primeiros, acaso pensandos escassamente reconhecidos, são os que ao menos insinuam as ideias que logo os segundos, geralmente identificados como criados da teoria comunicacional, assumem e implantam em detalhe para que, mais tarde, os continuadores de uma linha de pensamento já instalada reinterpretem as modalidades e os alcances de cada linguagem teórica e seus sistemas conceituais associados (Carniglia, 2010).
Neste sentido, corresponde considerar a Juan Díaz Bordenave [1926-2026], por seus aportes aos estudos da comunicação social, como ao mesmo tempo um precursor e um inventor da teoria latinoamericana sobre a comunicação rural.
Um merecido reconhecimento a um criados da teoria comunicacional latinoamericana
Juan Díaz Bordenava [1926-12026], de nacionalidade paraguaia, porém, de coração latinoamericano, nasceu em Encarnación, Departamento de Itapúa, Paraguai, em 23 de março de 1926, e faleceu no Rio de Janerio, Brasil, onde viveu por muitos anos de sua vida, em 22 de novembro de 2012. Muito jovem, estudou Agronomia na Escuela Nacional de Agricultura de Casilda, Argentina, tendo viajado depois aos Estados Unidos, onde cursou um mestrado em Jornalismo Agrícola na Universidade de Wisconsin (1955) e, posteriormente, em 1966, obteve o título de Doutor em Comunicação na Michigan State University. Teve sua experiência profissional mais relevente como especialista em comunicação agrícola no Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) entre 1956 e 1980, onde começou a escrever sua experiência que logo compartilhou em artigos e libros que, rapidamente, se inseriram na agenda latinoamericana de estudos na especialidade.
Em 2002, retornou ao Paraguai e foi nomeado reitor da Universidad Teko Arandú. Posteriormente, participou da criação do primeiro mestrado de Comunicação para o Desenvolvimento e o Câmbio Social na Universidad Nacional del Este.
A sua sensibilidade e seu interesse pela política o levou a se constituir como um dos delegados da Comissão de Verdade e Justiça do Paraguai, onde foi eleito para representar a Sociedade Civil, por sugestão do Setor dos Comunicadores.
Entre as suas obras, destacan-se: Estrategias de enseñanza-aprendizaje, Comunicación y sociedad, Participación y sociedad, Planificación y comunicación, Qué es la comunicación rural, Além dos meios e mensagens, Educación a distancia: fundamentos y métodos, Educación rural en el tercer mundo, Communication and rural development, entre muitas outras.
Em 2012, foi o conferencista principal do Congresso da ALAIC, em Montevidéu. Recentemente, em 2023, a comunidade acadêmica o comemorou através do livro: Por la senda de Juan (Oscar R. Cáceres Jimenez, comp., Asunção, Edit. Arandurã, 1923).
Os aportes de Juan Díaz Bordenave à teoria comunicacional se complementam com outros que equacionam com a Pedagogía e a Educação, buscando sempre um fio integrador e compreensivo sobre as aprendizagens e as posibilidades que a escuta oferece para que o ato de se comunicar supere as instâncias individuais e se constituam em um verdade ato de vinculação e comunhão.
Em particular, seu livro “Comunicação rural” (1983), publicado inicialmente em português, resultou precursor por tanto que contribuiu ao desenvolvimento da trajetória e do futuro de uma muito fecunda zona de investigação sobre a comunicação nas ruralidades da América Latina. No texto, preocupado por buscar definições sensíveis, porém profundas, e alterar a reflexão com diversos exemplos cotidianos do que sucede com a informação, as relações e o conhecimento nas zonas rurais, muito rapidamente ocupou a agenda de comunicadores e profissionais do rural ávidos por compreender e manejar adequadamente em suas coordenadas de trabalho e experiencia. Com já quatro décadas de existência, continua vivo nas referências bibliográficas que se evocam para problematizar o campo disciplinar.
O eixo temático de publicação
A teoria e a prática da comunicação rural se sustentam em uma compreensão e numa apropriação das dimensões simbólicas, relacionais, materiais e situacionais do muito rico patrimônio cultural da humanidade, conformado por diversos modos, meios e gêneros comunicacionais (Carniglia, 2023).
Neste sentido, desde o começo dos estudos comunicacionais todo um subcampo de investigações indaga sobre a estrutura, a dinâmica e as funções da comunicação rural nos países centrais e periféricos utilizando as teorias e os métodos convencionais e emergentes das ciências e dos campos do conhecimento sobre a sociedade, a cultura e os seres humanos. Assim, algumas publicações, por exemplo Cimadevilla e Carniglia (2004), compilaram e sistematizaram o conhecimento disponível em espaços internacionais específicos.
Assim mesmo, a comunicação rural constitui um campo de conhecimento aplicado sensível às continuidades e às mudanças das ruralidades como também à participação dos profissionais da comunicação, junto a otros especialistas, nos processos de desenvolvimento rural impulsionados por organizações públicas, privadas e comunitárias em contextos de políticas públicas e otras iniciativas particulares (Diaz Bordenave, 1984; Cimadevilla, 2008; Carniglia & Emiliozzi, 2020). Assim, vários grupos de pesquisa da ALAIC brindam um particular cenário para o diálogo fecundo entre estas pesquisas básicas e aplicadas.
Nesse marco, cabe reconhecer que as ruralidades de distintos países e regiões registram nas últimas décadas transformações muito importantes em suas dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais. Estas mudanças compreendem a globalização da agricultura, o aprofundamento do câmbio tecnológico, a crescente demanda de alimentos saudáveis, as mutações da pobreza específica, as migrações do campo à cidade, outros processos inversos e a sensibilidade pelos impactos ambientais da produção agropecuária, entre outras dinâmicas. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) e/ou o IICA do qual participava Bordenave, são algumas das organizações internacionais atentas a estes processos rurais e abertas ao papel desempenhado pelos profissionais da comunicação nos processos de um desenvolvimento rural sustentável em seus aspectos tecnológicos, económicos, sociais, políticos, culturais e ambientais.
Algumas destas mudanças impactam na teoria social sobre as ruralidades que tende hoje a revisar algumas de suas premissas intelectuais, por exemplo, a tradicional dicotomia entre o campo e a cidade (Cimadevilla y Carniglia, 2010) e/ou o tradicional preconceito de supor ao rural como isolado, hoje totalmente reconfigurado pela digitalização que atravessa todos os aspectos da vida cotidiana, em geral, e da particular experiência das ruralidades em particular (Cimadevilla, 2022; Tamargo & Carniglia, 2019). Assim, os satélites intervêm nos prognósticos climáticos, os sistemas de posicionamento global regulam a maquinaria de semeadura, os leilões de gado se realizam pela televisão, a telefonía móvil habilita um serviço rural até agora escasso nos países com desenvolvimento baixo ou médio, o computador se incorpora na escola rural e a televisão satelital penetra nas aldeias de quase todo o continente latino-americano (Carniglia, 2011; 2012).
Perguntas de interesse para o eixo temático da publicação
As condições antes enunciadas demandam um levantamento atualizado e sistemático das teorias, dos métodos, e das descobertas empíricas da investigação internacional sobre comunicação rural. Neste sentido, são imprescindíveis as publicações científicas com trajetória alcance e prestígio internacional, como as das revistas acadêmicas da ALAIC, que brindem respostas a, entre outras, as seguintes perguntas:
- Quem são os precursores, inventores e continuadores da pesquisa em comunicação rural nos níveis nacional e internacional?
- Quais linhas de pesquisa são reconhecidas como fundamentais no estudo da relação entre comunicação e ruralidade?
- Quais marcos ou eventos relevantes configuram a trajetória deste campo de conhecimento teórico e aplicado?
- Quais são as principais constantes e mudanças na pesquisa em comunicação rural em diferentes países, regiões e continentes?
- Como as mudanças na ruralidade impactam em teorias e métodos de pesquisa sobre os modos, meios e gêneros da comunicação rural?
- Como os modelos de comunicação para o desenvolvimento rural interpretam as condições rurais atuais?
- Quais materiais empíricos mostram as mudanças emergentes na comunicação rural na interação entre os processos rurais e a digitalização da vida cotidiana?
- Quais lacunas ou lacunas de conhecimento representam um desafio fundamental para pesquisas futuras?
Referências
Carniglia, E. (2010). “Ciencias sociales del interior, interior de las ciencias sociales”, en CARNIGLIA, E. y A: BRANDOLIN (Comps.). Las ciencias sociales en el interior, el interior de las ciencias sociales, Río Cuarto, UNRC. pp. 17-33.
Carniglia E. (2023). “Communication for All in the 21st century. Inequalities as development dilemmas in Latin America” En: SERVAES, J. y M. YUSHA’U (Eds.). SDG18 - Communication for All. Volume 2: Regional perspectives & special cases. Switzerland, Palgrave Macmillan. pp. 55-79.
Carniglia E. y A. Emiliozzi (2020). Territorios latinoamericanos. Ciudades, ruralidades y políticas de desarrollo. Río Cuarto, UniRío.
Carniglia, E. (2011). Las ruralidades de la prensa. Agronegocio, tecnología y agrarismo, Río Cuarto, UNRC-FCH.
Carniglia, E. (2012) De labradores y campos de papel. Recepción de prensa agraria por agricultores familiares. Saarbrücken, Editorial Académica Española.
Cimadevilla, G. (2002). “Communicating the sustainable: virtuality, risk and collective actions”. Embrapa Brasil. First l Conference on Organic Beef Cattle Production September, 02 to October,15 - 2002.
Cimadevilla, G. (2008). “Relatos, informes y ensayos. Un recorrido por los estudios de comunicación rural” y “Las transformaciones del mapa occult-tural”. En: GUMUCIO-DAGRON, A.; TUFTE, T. (comp.). Antología de comunicación para el cambio social: Lecturas históricas y contemporáneas. Edit. CFSC, Págs. 1068. Versión castellana, Plural Edit. La Paz. Versión inglesa: Communication for Social Change Anthology: Historical and Contemporary Readings. Edit. CFSC, Págs. 1068. New Jersey.
Cimadevilla, G. (2023). “Rurbanidad y Tic. Un rompecabezas de pocas piezas”, en POGGI, M. y CARRERAS, X. Usos y representaciones de las TIC en el agro. Buenos Aires, Ed. Teseo.
Cimadevilla G. y E. Carniglia (2004). Comunicación, ruralidad y desarrollo. Mitos, paradigmas y dispositivos del cambio. Buenos Aires, INTA.
Cimadevilla G. y E. Carniglia (2010). Relatos sobre la rurbanidad. Río Cuarto, UNRC.
Díaz Bordenave, J. O qué e comunicação rural. Rio de Janeiro, Ed. Brasiliense.
Tamargo B. y E. Carniglia. (2019). Maestras y TIC en escuelas ruralizadas. Claves del acceso en la pampa cordobesa. Río Cuarto, UniRío.
DATAS-LIMITE PARA A EDIÇÃO
Submissão de artigos completos pelo sistema da revista: até 30 de agosto de 2025
Edição de publicação: 2025.3
Previsão de publicação: janeiro de 2026
ORIENTAÇÃO PARA AUTORAS E AUTORES
Os textos devem seguir as normas da revista que estão disponíveis em: http://revista.pubalaic.org/index.php/alaic/about/submissions.
Esta edição da revista receberá ainda textos para a seção de “Artigos Livres”.
COORDENADORES DO DOSSIÊ:
Dr. Edgardo Carniglia
Contato: ecarniglia@hum.unrc.edu.ar
Universidad Nacional de Río Cuarto, Argentina.
Dr. Gustavo Cimadevilla
Contato: gcimadevilla@yahoo.com.ar
Universidad Nacional de Río Cuarto, Argentina.